sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

UMA ESCOLHA PARA A VIDA TODA

Toda criança tem sonhos. Claro que comigo não haveria de ser diferente. Ainda pequerrucha, entre tantas fantasias (bailarina, apresentadora de telejornal, cantora, escritora...), a maior e que acompanhou-me até a adolescência era a de tornar-me Médica.
Mas havia algo mais nesse desejo: Médica de crianças, eu pensava. Até aí, nada demais, já que tantas meninas sonham em ser professoras ou pediatras, provavelmente por estarem esses profissionais tão próximos nessa fase da vida. No entanto minhas ideias a respeito dessa futura carreira iam além: crianças com algum tipo de deficiência. Por que especificamente essas crianças? Eu não saberia dizer, só sei que era algo latente em minha mente e em meu coração.
Até então eu nunca tivera contato direto com nenhum tipo de deficiência. Apenas morava próximo ao Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, que atende pessoas cegas e com baixa visão e os via entrando e saindo do Instituto. Também tinha um primo com nanismo,que morava em Portugal e eu nunca havia visto. Mas esse era um assunto que cada vez me fascinava mais. Principalmente o trabalho com pessoas com deficiência intelectual, que lá pelos anos 80 ainda eram chamadas de excepcionais ou deficientes mentais.
Nessa época comecei a sonhar (literalmente) com lugares em que eu me via cercada de crianças e a maioria tinha alguma deficiência. Muitas vezes, nesses sonhos, eu estava sentada no chão lendo ou fazendo alguma atividade com elas e pensando que aquele não era o trabalho de uma médica, mas eu estava muito feliz por fazê-lo, mesmo sem saber exatamente o que era.
Então um dia, em uma sala de espera com minha mãe, um menino com Síndrome de Down se aproximou de mim, nós conversamos e vimos revistas juntos e ele nunca vai saber o que me causou... O que era sonho para mim tornou-se certeza absoluta. Pelo menos foi o que eu pensei... Ainda não sabia que cada curva da nossa vida pode estar cheia de surpresas e como não sabia, inscrevi-me no vestibular para Medicina. Horas de estudo, escola durante a semana, cursinho aos sábados de 7h às 19h e eis que me deparo com uma dessas curvas!
Não sei como aquele jornal foi parar em minhas mãos (alguns chamarão de destino, outros dirão que foi Deus e outros ainda que foi uma simples coincidência). Eu já estava com a minha profissão escolhida, pelo menos era o que eu pensava. Abro o jornal e leio que a UERJ e uma Universidade no Rio Grande do Sul ofereciam o Curso de Educação Especial (Pedagogia com habilitação em Educação Especial para deficiência mental, auditiva e visual). Meu coração quase saiu pela boca. Lembro-me perfeitamente de ler as atribuições da carreira e ficar repetindo: É isso! É isso o que eu quero! Naquela época, então com 17 anos, pensando em Medicina (Neurologia ou Psiquiatria), eu nem imaginava que existisse essa profissão.
Era o meu sonho começando a tornar-se realidade. Aquelas crianças que eu vi não seriam meus pacientes, mas meus alunos.
E eu tenho que agradecer a cada aluno(a) que, sem conhecer essa história, participou desse sonho nos últimos 18 anos, desde que me formei.

Um comentário:

  1. Olá Andrea descobri teu blog graças ao Fred.
    Te formates em EE?por onde?minha mãe é aposentada como Educadora especial formada na UFSM(DA). Agora serei mais uma de tuas seguidoras. bjs
    karla siqueira
    (fisioterapeuta)

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