sábado, 8 de janeiro de 2011

TRABALHO COM ANJOS


É verdade. A princípio pode parecer que sou uma espécie de assessora para assuntos celestiais, mas não. Meus anjos são terrenos. Não têm asas nem longos vestidos, mas alguns até possuem cachinhos. Por vezes são anjos bagunceiros, aprontam, fazem o maior auê! E quando acontece de um deles querer ganhar asas de verdade, meu coração dói um bocado.
Nada começou por acaso. O trabalho junto a esses anjos (crianças e adolescentes com deficiência intelectual) foi desejado, sonhado, buscado, até tornar-se realidade. Pensei em ser Médica, tornei-me Professora!
A cada dia um avanço, uma descoberta, um passo, uma palavra, um novo aprendizado... Vitórias, conquistas, suor, dificuldades, acordar no meio da noite com uma ideia que pode ser boa para o anjinho x, anotar a ideia, pesquisar sobre a síndrome do anjinho y, novo na turma... Estudar, ler, pesquisar, por em prática! UFA!!! Confesso que adoro tudo isso!
E como não adorar? Em que outro local de trabalho eu ouviria todos os dias: “Eu te amo”, “Andréa, você é linda”, “Eu sou a sua princesa”, “Eu sou feliz” e mesmo o brilho nos olhos dos que não falam?
Problemas existem também, sem dúvida. Às vezes alguma criança deixa de tomar o remédio que faria com que ela tivesse um dia mais tranqüilo, não há auxiliares para ajudar no trabalho, há crianças que usam fraldas, meninas que ainda não aprenderam a trocar o absorvente, mães que querem (precisam) conversar... Todos necessitam ser atendidos.
Afinal, nem tudo são flores, não é mesmo? Mas essas dificuldades diluem-se no meio da jornada. Na lembrança que guardo dos anjos que agora estão em classes comuns, dos que se emocionam e me emocionam com o aprendizado da leitura e da escrita, daqueles que chegaram apáticos, não falavam e não brincavam com os colegas e hoje procuram se comunicar,daqueles que já conseguem pegar seus copos e colocar a água sozinhos...
É... meus anjos podem ser terrenos, mas acho que com eles estou bem pertinho do céu.

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